Em declarações à agência Lusa, o responsável considerou que
a perda turística do Alentejo é "brutal e catastrófica", apesar de
esta ser "a região que menos sofre" com a quebra generalizada
provocada pela pandemia de covid-19, que segundo o último relatório do
Instituto Nacional de Estatística (INE) é "superior a 90% a nível nacional".
"No Alentejo, a quebra está nos 80 e tal, perto dos
90%", afirmou o presidente da Agência Regional de Promoção Turística
(ARPT).
Lembrando que "o primeiro mercado" turístico do
Alentejo é o espanhol, representando cerca de 20% do total de turistas
estrangeiros na região, à frente dos americano e brasileiro, "que são
importantíssimos", Vítor Silva rejeitou que a ausência de corredores
aéreos internacionais com destino a Lisboa seja o fator determinante para a
quebra turística na região.
Devido à pandemia de covid-19, por decisão conjunta dos dois
países, a fronteira luso-espanhola esteve encerrada durante três meses e meio,
entre os dias 17 de março e 30 de junho, com pontos de passagem exclusivamente
destinados ao transporte de mercadorias e a trabalhadores transfronteiriços.
"O turista espanhol vem, sobretudo, de carro e temos
informações quotidianas que mesmo nas cidades e vilas fronteiriças o número de
espanhóis é muito reduzido. É uma questão psicológica, as pessoas têm medo de
viajar e o turismo é muito sensível às questões de segurança, não apenas a
sanitária. Enquanto não houver uma vacina ou tratamento, é difícil fazer
previsões", disse Vítor Silva.
E a chegada de turistas estrangeiros ao Alentejo será
especialmente importante "a partir de outubro", uma vez que, apesar
de a região continuar a "apostar muito nos turistas portugueses", o
presidente da Entidade Regional de Turismo (ERT) do Alentejo e Ribatejo admitiu
que o turista estrangeiro "é decisivo" para a região.
Questionado pela Lusa sobre se o turismo nacional seria
suficiente para manter o setor na região, António Ceia da Silva foi taxativo a
sublinhar que o Alentejo "precisa sempre do turismo internacional".
"O nosso turismo é 65% de portugueses e 35% de
estrangeiros. É verdade que não precisamos tanto como outras regiões do país,
mas é decisivo, ainda mais a partir de outubro, porque até finais de setembro
ainda temos os turistas portugueses", disse o responsável.
António Ceia da Silva alinha pelo mesmo discurso de Vítor
Silva, quando afirma que "não é possível fazer qualquer tipo de
planeamento em tempos de pandemia", explicando que "há muitas
reservas canceladas", porque as pessoas ainda "têm muito a perceção
de medo", mas garantiu que, "felizmente, há mais reservas de última hora".
Ainda assim, falou de uma dicotomia acentuada nas taxas de
ocupação na região, que não se explica com diferenças entre litoral e interior,
mas sim com a existência de "zonas rurais mais tranquilas e recatadas que
estão completamente cheias".
"Há zonas com excelentes taxas de ocupação, acima de
80%, e outras que passam por momentos difíceis. Podemos falar de uma tipologia
de unidades mais rurais, tipo monte alentejano, e embora a região não tenha
unidades hoteleiras com muitos andares, Évora sofreu um pouco pelo que foi a
pandemia e o surto de Reguengos de Monsaraz, mas este está completamente
controlado e ambas as cidades podem vir a melhorar as taxas de ocupação",
analisou Ceia da Silva.
Nesse sentido, o presidente da ERT do Alentejo e Ribatejo
referiu que tem vindo a ser feito "um grande trabalho para demonstrar que
a região é segura", do qual fazem parte a "certificação sanitária e
sessões de esclarecimento aos empresários" do setor turístico para
comprovar que "a região é segura e está preparada" para receber os
turistas em contexto de pandemia.
Por sua vez, Vítor Silva lembrou o trabalho desenvolvido
pelo Turismo de Portugal na criação do selo 'Clean & Safe', que vai ser
"fundamental em todas as unidades" apesar dos "custos
acrescidos" que acarreta para os cerca de 300 sócios da Agência Regional
de Promoção Turística do Alentejo.
"As próprias plataformas de reservas vão ter de
incorporar estes dados na informação que têm das unidades, pois as pessoas vão
procurar as condições de segurança, quantas vezes os quartos são limpos, se os
restaurantes e as piscinas da unidade têm condições de distanciamento",
enumerou Vítor Silva.
E apesar de considerar que "a confiança é a chave disto
tudo" e de lembrar que a agência regional já teve de "reformular duas
vezes todos os planos", desde o início da pandemia, porque "a
situação evolui de tal maneira que a isso obriga", Vítor Silva assegurou
que há campanhas preparadas para "iniciar logo que seja possível convidar
as pessoas para virem".
"Tem havido campanhas no sentido de que não se esqueçam
de nós e temos uma campanha preparada para lançar no mercado espanhol a partir
de setembro", adiantou o presidente da entidade responsável pela promoção
turística do Alentejo no estrangeiro, lembrando que todos os planos estão
"sujeitos a alterações" de última hora no atual contexto.
No plano interno, António Ceia da Silva lembrou, por seu
vez, que a ERT está "a trabalhar no terreno todos os dias" e referiu
que há uma campanha em curso para lembrar aos portugueses que "há um lugar
onde podem viver tranquilamente os seus dias de férias e esse lugar é o
Alentejo".
"A campanha tem como subtítulo 'perto de si, longe da
multidão' e é muito feliz. Diria que é uma campanha de ativação de marca. Pelo
que tem sido comentado, acho que está a funcionar muito bem. Mesmo que não
capte turistas no imediato, resulta na afirmação do território", defendeu
Ceia da Silva.
Lusa