Conhecida por também ser comentadora na TVI, o seu desejo de
singrar na televisão surgiu quando se apercebeu que tinha jeito para contar
piadas. Era de família.
Tudo começou com os serões em que ouvia o pai a divertir os
amigos com as histórias mais caricatas. Quis a vida que aos 18 anos se mudasse
para Lisboa em busca deste sonho.
Como é que surgiu a televisão na sua vida?
Foi há 10 anos, quando tinha 17 anos. Eu já contava anedotas
no Alentejo lá em festinhas pequeninas. Depois fui para a Rádio Planície em
Moura e comecei a fazer espetáculos em alguns bares. Um dia cheguei a casa e
mandei um email para o programa da Conceição Lino, o 'Boa Tarde', a dizer que
sabia mais de 100 anedotas e que gostava de ir à televisão. Pensava que nunca
me iriam chamar e passados dois ou três dias chamaram-me.
A Tânia Ribas
de Oliveira é a minha madrinha da televisão
E foi então que o 'bichinho' da televisão surgiu...
Sim. Quando acabei o secundário, queria ser professora de
educação física, só que a partir do momento em que entrei num estúdio de
televisão pensei, 'não, não é desporto, isto é que vai ser a minha vida'.
Depois vim para Lisboa estudar teatro. Entretanto, fui para a RTP, a Tânia
Ribas de Oliveira é a minha madrinha da televisão. Eu mandava-lhe mensagens a
dizer que precisava de divulgar as minhas peças de teatro e em troca eu contava
as anedotas todas que ela quisesse. Ela achou piada ao meu descaramento e
começou a convidar-me para ir lá.
E sempre teve esse descaramento?
Sim, mas era um descaramento saudável. Sempre fui assim,
porque tinha de me desenrascar por algum lado.
O meu pai era um grande contador de anedotas, como
qualquer alentejano
E porquê contar anedotas?
O meu pai era um grande contador de anedotas, como qualquer
alentejano e contava muitas anedotas no Natal e no encontro de famílias. Achava
piada de como as pessoas se riam de uma história completamente absurda.
Na vinda para Lisboa, conseguiu adaptar-se bem?
Estava com a adrenalina toda, mas depois senti a falta da
família e dos amigos. Era um espaço que não era meu, não conhecia a senhora do
café, ninguém à volta. Mas passado um tempo adaptei-me porque sabia que era
aqui que me tinha de formar enquanto artista.
Os seus pais compreenderam essa decisão na altura?
Sim, eu sou a mais nova de três irmãos. Claro que se
preocuparam, mas a partir do momento em que eles perceberam que eu vinha
informada e não atrás da ilusão da fama, ficaram mais descansados.
Há muitos jovens que vêm com a ilusão de que este meio
é fácil e não é
Esse lado da fama que fascina tantos jovens hoje em
dia não foi um problema para a Ana...
Não, e ainda hoje não é. Temos de ter os pés assentes na
terra e tem muito a ver com a educação que nos transmitem. Há muitos jovens que
vêm com a ilusão de que este meio é fácil e não é. É um meio de grande responsabilidade,
as pessoas pagam bilhetes para nos irem ver. Nunca me iludi com a fama, gosto
que reconheçam o meu trabalho e não apenas ser famosa porque sim.
O meu sotaque é
o que me ajuda a chegar mais depressa às pessoas
Sendo alentejana e querendo entrar para o mundo do
humor sentiu que esse estereótipo estava muito ligado a si? Ou pretendia ficar
com essa marca?
Era isso que eu pretendia. Não há nenhuma alentejana a
contar anedotas. O meu sotaque é o que me ajuda a chegar mais depressa às
pessoas. É aquilo que eu sou.
É fácil fazer as pessoas rir?
Não é fácil... há públicos e públicos. Há aqueles que nós
chegamos, dizemos boa noite e as pessoas já se estão a rir, há outros que ficam
a rir mais ou menos e outros que parece que não está ninguém na sala. Essa é a
parte interessante de um comediante: ter que trazer as pessoas para dentro do
espetáculo, para a nossa história. É difícil, mas dá gosto.
Sendo mulher sentiu uma diferença nesse sentido?
Tenho a sorte de ser alentejana e de ter esta bengala, como
já disse, mas notei que as pessoas não davam logo a oportunidade. Vemos um
homem, é logo comediante, enquanto comigo era uma mulher e que era comediante.
Sentia que estavam sempre a pôr-me à prova, mas nunca senti faltas de respeito
por ninguém. Apenas tinha de provar mais do que os outros.
O mais desafiante é comentar uma 'casa', não fazia
ideia que era tão difícil, porque estamos a comentar o comportamento das
pessoas
E qual das 'tarefas' é mais fácil para a Ana? Estar em
palco a contar anedotas ou em televisão a comentar reality shows?
O mais desafiante é comentar uma 'casa'. Não fazia ideia que
era tão difícil, porque estamos a comentar o comportamento das pessoas. Temos
de associar à nossa opinião e ter o cuidado de falar destas pessoas, temos de
ter respeito, porque eles estão à procura de um sonho. Não sabemos como são
fora dali, às vezes é injusto ou justo, mas é a nossa opinião e vale o que
vale. É um trabalho de responsabilidade.
Gostava de ter continuado no 'Extra' do 'Big Brother'?
Eu adorei fazer, mas a televisão é feita de ciclos. Tem de
haver espaço para todos. Estou a adorar estar neste lado do sofá a ver os meus
colegas a comentar, mas claro que sinto saudades. Eu levo a vida assim.
Qual é o conselho que gostava que lhe tivessem dado
quando começou a sua caminhada?
Se calhar para ir com mais calma, porque eu sou um furacão.
Curtir mais o momento. Às vezes estou nos projetos e já estou a pensar como é
que aquilo que vai acabar. Agora já curto mais, nem penso se vão acabar ou não.
Já aconteceu os mais novos lhe pedirem conselhos?
Sim, e como já referi, não é um mundo fácil. Não é só a
parte bonita que as pessoas vêem, exige muitas horas sem dormir e não há feriados
ou aniversários.
E é fácil conciliar esse mundo corrido com a vida
pessoal?
É como uma profissão normal. Os meus amigos já sabem e
percebem. Custa um bocadinho, mas faz parte do trabalho e eu sempre aceitei
isso bem.
Tem algum plano B ou está focada nisto a 100%?
Estou focada nas aulas e também dou cursos para o setor
empresarial a pessoas que querem falar em público e não conseguem.
Se pudesse trazer alguma coisa do Alentejo o que é que
seria?
Trazia tudo, não consigo dizer uma coisa. Tenho vários amigos
alentejanos, restaurantes, mas acho que trazia o céu - ah, que bonito, agora
foi poético. Mas a sério, seria o céu. Lá é diferente, ha muitas estrelas.
Planeia voltar?
Sim, daqui a muitos anos, gostava de sim.
Entrevista ao site Notícias ao Minuto